A economista costarriquenha Epsy Campbell, primeira mulher negra a ocupar a vice-presidência em um país da América Latina, de 2018 a 2022, participou do seminário ‘Desafios da Democracia no Brasil: Violência de Gênero e Raça na Política’, uma das atividades do Festival Latinidades, em Salvador. O evento reuniu, neste domingo (30), no Museu Eugênio Teixeira Leal, no Pelourinho, mulheres negras pioneiras nos espaços públicos de poder para traçar um panorama da presença feminina negra na política e apontar caminhos para a superação das desigualdades.
“Precisamos ter propostas claras sobre o que queremos alcançar para construir alianças estratégicas com diferentes segmentos sociais e dialogar com o eleitorado. Temos que usar os espaços que já conquistamos para mostrar que podemos fazer as coisas de maneira diferente, pensando no bem-estar das pessoas que estamos representando. Se gerarmos redes de apoio e tivermos clareza dos nossos objetivos, vamos conseguir aumentar a participação das mulheres negras na política”, ressaltou Campbell, que está à frente do Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU.
A secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais, Ângela Guimarães, reconheceu os avanços alcançados, como a reserva de vagas e de recursos para candidaturas femininas, mas destacou que os desafios ainda são grandes. “É essencial mudar a fotografia do poder para que ela espelhe a diversidade da sociedade brasileira. A sub-representação dificulta o avanço das nossas pautas e esse debate não poderia ficar de fora do Latinidades, um festival que dá visibilidade à produção cultural, intelectual e econômica das mulheres negras”, destacou a titular da Sepromi.
O seminário abriu espaço também para lançamentos. O Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) apresentou a publicação ‘Da Lei do Ventre Livre aos dias atuais: Direitos sexuais e reprodutivos das mulheres negras no Brasil sob uma perspectiva histórica’ e a diretora Quézia Lopes realizou a pré-estreia do documentário ‘Corpos Invisíveis’.
O Festival Latinidades começou ontem (29) na capital baiana. O Encontro de Juristas Negras abriu a programação com discussões sobre maternidade negra, mulheres e cárcere, arte, justiça e ancestralidade. Em seguida, o II Concerto Internacional contra o Racismo: Pelos Direitos das Mulheres Negras lotou a Praça Quincas Berro D’Água para shows de artistas de diversos países. O espaço recebe ainda a Feira Bahia Afro, criada para promover o empreendedorismo negro.
Com patrocínio de Natura Musical e apoio do Unfpa e do Governo da Bahia, por meio da Sepromi e das secretarias de Cultura (Secult) e de Turismo (Setur), o Festival Latinidades será encerrado hoje com shows de Ayana Amorim e do grupo Samba Ohana, a partir das 18h, também na Quincas Berro D’Água.